Calle 13 é um fenômeno no mundo hispânico nos últimos anos. É um dos maiores expoentes da nova musica hispânica critica, ele pega as tradições dos grandes músicos críticos desta terra latina, mas ele é um pouco deferente, Calle 13 faz um convite para dançar, pega também as musicas comerciais porque pra ele o mais importante é transmitir uma mensagem para toda America Latina. E o qual é essa mensagem? Que a gente é um único povo, diferente, diverso, mas o mesmo povo todos e todas irmãos e irmãs. Que a gente tem que fazer uma revolução, uma mudança social unidos, mas que esse caminho esta na educação e não nas armas. Dança, união, revolução e identidade própria. Isso é Calle 13.
No ultimo álbum tem uma dessas musicas que você escuta e fica tudo arrepiado. é, chama-se "latinoamerica" e nela canta com Maria Rita do Brasil, Totó la Momposina da Colômbia e Susana Baca do Peru. Más hoje, precisamente hoje escutei sua versão em Villa del Mar (chile) com dois dos grandes artistas desse país, primeiro, Inti illimani, um grupo que é legendário em todos os andes, um dos maiores representantes da música andina. E com a Camila Moreno, uma das novas vozes da nova musica popular chilena. De novo, fiquei com os olhos molhados, a pele arrepiada e o coração batendo a mil. Quer compartilhar com vocês todo o que diz esta musica. Pra que entendam um pouco minha emoção.
A Letra
o que está em parêntese são algumas observações minhas.
"Sou… sou o que deixaram
Sou todos os restos do que roubaram
Um povo escondido na cima (muitos povos indígenas sobreviveram subindo nas cimas geladas das montanhas como os Koguis, U'was e Arhuacos, na Colômbia)
Minha pele é de coro, por isso suporta qualquer clima.
Sou uma fabrica de fumaça
Mao de obra camponesa para teu consumo (a maioria dos obreiros latinos, anteriormente eram camponeses e que fomos e ainda somos países de camponeses)
Frente de frio no meio de verão.
O amor nos tempos de cólera, meu irmão! (o livro de Gabirel Garcia Marquez, colombiano)
O sol que nasce e o dia que more
Com os melhores por de sol
Sou o desenvolvimento em carne viva (tem que ver com que o primeiro lugar aonde se implementou o discurso do "desenvolvimento" foi América Latina, e as consequência disso são evidentes...)
Um discurso político sem saliva
As caras mais bonitas que conheci
Sou a fotografia dum desaparecido (por as numerosas ditaduras que o continente viveu, e os infinitos desaparecidos, da Argentina, Chile, Colômbia, América Central)
O sangue dentro de tuas veias
Sou um pedaço de terra que vai a pena
Uma cesta de feijão. Sou Maradona contra Inglaterra (o feijão é um símbolo da América Latina, desde México até o Brasil, o feijão nunca falta na mesa latina. O de Maradona é conhecido como o melhor gol da historia dos mundiais)
Fazendo dois goles. (além, foi o partido no mundial depois da Guerra das Malvinas, entre Argentina- Inglaterra, aonde Argentina perdeu a guerra, mas ganhou o partido)
Sou o que sustenta minha bandeira
A espinha dorsal do planeta é minha cordilheira. (a cordilheira dos andes)
Sou o que me ensinou meu pai
Que não quer sua pátria, não quer sua mãe.
Sou América Latina, um povo sem pernas, mas que caminha
você não pode comprar o vento (primeiro canta em español e depois em português.)
você não pode comprar o sol (critica a tendencia atual no neliberalismo: tratar de comprar tudo, mas existem coisas que você não pode comprar)
você não pode comprar a chuva
você não pode comprar o calor
você não pode comprar as nuvens
você não pode comprar as cores
você não pode compra. minha alegria
você não pode comprar as minha dores
Tenho as lagoas, tenho os rios
Tenho meus dentes pra quando sorrio.
A neve que maquia minhas montanhas (pelas grandes "nevados" que existem no continente)
Tenho o sol que seca e a chuva que me banha. ( o deserto mais seco do mundo (deserto de Atacama, Chile) e a região mais úmida (floresta Chocoana, Colombia))
Sou um deserto bêbado de peiote (o peiote é uma bebida alucinógena sagrada utilizada por alguns indígenas de México)
Um trago de pulque para cantar com os coiotes (pulque é uma bebida alcoolica feita com Maguey (ao igual que o Tequila))
Tudo o que preciso, tenho meus pulmões respirando azul clarinho
A altura que sufoca ( a sensação nas altas montanhas andinas é de sufoco, também é conhecido como mal de montanha, na Colômbia a gente fala isso como soroche)
Sou as molas da minha boca, mastigando coca (mastigar coca é uma atividade comum entre os indígenas andinos, você começa mastigar coca quando consegue a maioria de idade até você morrer, da sabedoria segundo muitos povos indígenas)
O outono com suas folhas desmaiadas
Os versos escritos sob as noites estreladas
Uma vinha cheia de uvas (referencia a Argentina e Chile, por seus vinhos)
Um canavial sob o sol na Cuba (A economia cubana e a identidade cubana esta muito ligada ao cultivo de cana, e o tabaco)
Sou o mar Caribe que vigia as casinhas
Fazendo rituais de água benta (referencia à santeria e o Vodu, religões caribenhas semelhantes ao candomblé)
O vento que penta meus cabelos
Sou todos os santos que penduram de meu colo (o catolicismo em América latina se espalhou por muito santos e santas que muitas vezes eram sincretizados de deuses americanos e africanos, sem dúvida em nenhum outro lugar é tão importante os santos como em este continente)
O suco da minha luta não é artificial
Porque o abono da minha terra é natural (referencia a luta contra os transgênicos)
Trabalho bruto, mas com orgulho
Aí se compartilha, o meu é seu
Este povo não se afoga com marulho
E se derrubasse, eu o reconstruiu
Tampouco pestanejo quando te olho
Para que se lembre do meu sobrenome
A operação Condor invadindo meu ninho (a operação Condor foi uma operação desenhada pelos EEUU para controlar toda America latina, teve consequência em todos os países latino-americanos)
Perdôo mas nunca esqueço
Vamos caminhando
Aqui se respira luta
Vamos caminhando
Eu canto porque se escuta
Vamos caminhando
Aqui estamos em pé
Viva A America!
Não pode comprar minha vida".